"*RÁDIO SOTELO*"

domingo, 13 de janeiro de 2013



O Santuário e as Duas Testemunhas
(Apocalipse 11:1-13)
Ointervalo entre as sexta e sétima trombetas continua no capítulo 11 com mais duas cenas que
mostram a proteção divina para os fiéis. O povo é protegido, mas não totalmente. Ainda
sofrerão as agressões dos inimigos e podem até morrer, mas a vitória final pertence aos santos
de Deus.
A Ordem para Medir o Santuário (11:1-2)
11:1 –
Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara: João continua a sua participação ativa,
recebendo um caniço para medir.
Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele adoram: O relato de João
aqui não oferece detalhes, mas nos lembra da medição do templo em Ezequiel 40-42. Observamos,
na lição 18, a importância das mensagens dos profetas em
relação ao cumprimento do mistério de Deus, notando que o
contexto de Ezequiel 37-39 mostra o domínio do Messias sobre
as nações. Em Ezequiel 40-42, o profeta assiste enquanto um
homem mede o templo. A visão de Ezequiel mostra o povo de
Deus restaurado à glória e à proteção de Deus, o qual volta ao
templo no capítulo 43.
Zacarias 2:1-5 apresenta outra visão de medição, esta vez de
Jerusalém. Como nos intervalos do Apocalipse, o propósito da
visão de Zacarias é assegurar os fiéis da proteção divina: “Pois
eu lhe serei, diz o SENHOR, um muro de fogo em redor e eu mesmo serei, no meio dela,
a sua glória” (Zacarias 2:5).
Ao ouvir a ordem para medir o santuário, João e seus leitores, sem dúvida, lembrariam dessas
passagens proféticas e do consolo que oferecem aos servos do Senhor.
O santuário de Deus, no Novo Testamento, é o povo do Senhor. Num texto que fala sobre a edificação
da igreja, Paulo diz que os discípulos de Cristo são o santuário de Deus (1 Coríntios 3:16-17; cf. 2
Coríntios 6:16). A família de Deus, edificada sobre a pedra angular, é o “santuário dedicado ao
Senhor” (Efésios 2:19-22). O templo não é um edifício feito com mãos, e sim uma casa espiritual (1
Timóteo 3:15). Esta casa espiritual é feita de pedras que vivem (1 Pedro 2:5-6).
João tira qualquer dúvida sobre o significado do santuário quando diz que a medição incluiria “os que
naquele adoram”. Não se trata de medir uma estrutura física. Este templo é composto por
adoradores, pessoas, os verdadeiros sacerdotes de Deus que adoram dentro do templo.
11:2 –
Deixa de parte o átrio exterior..., porque foi ele dado aos
gentios: A ordem para medir não somente oferece consolo, fala
também de santificação. Os adoradores dentro do santuário são
separados dos gentios no átrio. A palavra traduzida “gentios”
aparece 22 vezes no Apocalipse, normalmente traduzida
“nações” ou “povos”. Várias vezes, refere-se aos gentios na carne
ou às nações em geral, como pessoas que ouvem o evangelho
1 Foi-me dado um caniço
semelhante a uma vara, e
também me foi dito:
Dispõe-te e mede o
santuário de Deus, o seu
altar e os que naquele
adoram;
2 mas deixa de parte o átrio
exterior do santuário e não o
meças, porque foi ele dado
aos gentios; estes, por
quarenta e dois meses,
calcarão aos pés a cidade
santa.
Lição 19: O Santuário e as Duas Testemunhas (11:1-13) 91
e recebem a oportunidade de serem salvas (5:9; 7:9; 14:6; 21:24-26; 22:2). Da mesma forma que
palavras como judeu, circuncisão e Israel, no Novo Testamento, passam a identificar os servos de
Cristo (Romanos 2:28-29), a palavra gentios, às vezes, representa os que não conhecem a Deus (1
Tessalonicenses 4:5; 3 João 7). Assim, vivemos “no meio dos gentios” (1 Pedro 2:12), mas não
andamos como eles andam (Efésios 4:17; 1 Pedro 4:3). Neste sentido, a palavra gentios ou nações,
em algumas das citações no Apocalipse, refere-se aos ímpios. São as nações seduzidas por Satanás
para pelejarem contra o povo de Deus (20:7-9). São as mesmas que impedem o sepultamento das
duas testemunhas (11:9-10) e que se enfurecem contra os servos de Deus (11:18). As nações apóiam
a meretriz, Babilônia (17:15), são seduzidas pela feitiçaria dela (18:23) e se prostituem com ela (18:3).
Jesus, porém, domina as nações com o cetro de ferro (12:5; 19:15). Os vencedores participam do
reinado dele sobre os povos (2:26-27; 20:4,6).
Quarenta e dois meses: Este período sempre representa um tempo relativamente breve de
tribulação ou sofrimento. É o mesmo período de “tempo, tempos e a metade de um tempo”
(12:14; Daniel 7:25), de 1.260 dias (11:3; 12:6) ou de “três anos e seis meses” (Tiago 5:17). É a
metade de sete anos, que representaria um período completo.
Calcarão aos pés a cidade santa: Há diversas interpretações da cidade santa.
Pré-milenaristas geralmente explicam que a cidade santa é Jerusalém (terrestre) e que o templo será
reconstruído naquela cidade para o cumprimento desta profecia. Enfrentam inúmeras dificuldades
com esta interpretação, que descarta totalmente os limites de tempo encontrados do começo ao fim
do Apocalipse.
Outros acreditam que o Apocalipse foi escrito antes de 70 d.C. e que fala da destruição do templo e
da cidade de Jerusalém pelos romanos. Citam Lucas 21:24, onde Jesus usou linguagem semelhante
para falar sobre a destruição de Jerusalém. Uma vez que entendem a cidade literal, procuram uma
explicação literal do tempo de 42 meses. Aqui a situação se complica. Freqüentemente citam a
duração da guerra entre os romanos e os judeus, dizendo que Nero enviou Vespasiano no início de
67 (fevereiro? – há dúvida sobre esta data) para vencer os judeus rebeldes e que o período de 42 meses
termina com a destruição da cidade de Jerusalém em setembro de 70. Mas o exército romano não
entrou em Jerusalém em 67. Vespasiano começou na direção de Jerusalém em 68, mas desistiu
devido à morte de Nero. Tito cercou Jerusalém nos primeiros meses de 70, invadiu os muros por volta
de abril ou maio, e destruiu a cidade em setembro. Assim, para dizer literalmente que calcaram aos
pés a cidade literal de Jerusalém por 42 meses exige algumas explicações mais complicadas. Para
defender esta posição é necessário, também, manter uma data para o Apocalipse antes de 70 d.C.,
contra outras evidências que ainda encontraremos.
O que é a cidade santa? Consideremos as evidências bíblicas. As expressões “cidade santa” ou “santa
cidade”, em si, aparecem onze vezes na Bíblia. Neemias 11:1 e 18 identificam a cidade física de
Jerusalém. Daniel chamou Jerusalém de “santa cidade” (9:24). Isaías repreende o povo de Israel que
profanaram o nome da “santa cidade” (48:2). Mais tarde ele fala de “Jerusalém, cidade santa”
(52:1). Lendo o capítulo todo, percebemos a ênfase na restauração espiritual do reino de Cristo sobre
seu povo, da salvação que vem pela pregação do evangelho. Mateus usa esta expressão duas vezes
(4:5; 27:53) para identificar a cidade literal de Jerusalém. As outras ocorrências se encontram no
Apocalipse – aqui em 11:3, e algumas outras vezes no final do livro. Em 21:2, 10 e 22:19, ele
claramente descreve o povo espiritual de Deus, a nova Jerusalém que desce do céu. Outras expressões
semelhantes ajudam a entender este sentido espiritual. Apocalipse 3:12 fala da presença eterna do
vencedor no “santuário do meu Deus” e na “cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que
desce do céu”. Paulo disse que a nossa mãe é a Jerusalém livre lá de cima e não a “Jerusalém
atual, que está em escravidão com seus filhos” (Gálatas 4:25-26). O autor de Hebreus disse:
“Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial... e
igreja dos primogênitos arrolados nos céus” (Hebreus 12:22-23).
92 Um Estudo do Apocalipse de Jesus Cristo
Entendendo este sentido de Jerusalém espiritual ou celestial, como podemos entender estes primeiros
versículos do capítulo 11? João mede o santuário de Deus, mostrando a intenção do Senhor de
proteger o seu povo, mas ainda diz que a cidade santa será pisada pelos gentios durante três anos e
meio. O povo fiel seria protegido, mesmo deixando a igreja ser perseguida por um período. Podem
afligir a igreja, e até matar os corpos dos fiéis, mas não atingiriam os espíritos dos verdadeiros
adoradores. “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (Mateus 10:28).
A igreja pode ser calcada aos pés pelos perseguidores, mas eles nunca chegarão a destruir o santuário
em si onde os sacerdotes adoram a Deus.
O Trabalho, a Morte e a Ressurreição das Duas Testemunhas (11:3-13)
11:3 –
Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias: A
ordem vem de cima. As testemunhas profetizam pela autoridade de Deus.
Quem são as duas testemunhas? Comentaristas têm oferecido
diversas respostas a esta pergunta. Alguns procuram
personagens específicas, até sugerindo a volta à terra de pessoas
do Velho Testamento (por exemplo, Moisés e Elias ou Enoque e
Elias). Outros sugerem o Antigo e o Novo Testamentos. Alguns
dizem que são a Lei (de Moisés) e os Profetas (veja Lucas
16:29,31; 24:27; Atos 13:15; 24:14; Romanos 3:21 e outras
passagens que falam sobre a Lei e os Profetas, mas considere também comentários de Jesus
mostrando que estas revelações do Antigo Testamento já seriam ultrapassadas pelo evangelho –
Mateus 11:13; Lucas 16:16). Outras possibilidades incluem profetas e apóstolos (Lucas 11:49) ou o
Espírito Santo e os apóstolos (João 15:26-27; Atos 5:32).
Por não ter uma identificação específica neste trecho, talvez a resposta melhor se encontra no próprio
contexto. Os primeiros versículos do capítulo falaram sobre a igreja, o povo de Deus. Cristãos fiéis são
descritos como testemunhas ou pessoas que dão testemunho em outros versículos do livro (2:13; 6:9;
12:11,17; 17:6; 19:10; 20:4). Veremos um pouco mais sobre as testemunhas no versículo 4.
O tempo do trabalho deles, 1.260 dias, é igual a 42 meses (11:2) ou três anos e meio (usando o
calendário de 12 meses de 30 dias). Este período, a metade de sete anos, normalmente descreve um
período de tribulação e sofrimento. Seria um trabalho difícil, cheio de angústia (veja o significado de
pano de saco abaixo), mas seria temporário.
Vestidas de pano de saco: Pano de saco é a roupa de lamentação e angústia, sentimentos opostos
à alegria (Salmo 30:11; 35:13; 69:11; Ezequiel 27:31; Joel 1:8). Jacó se vestiu de pano de saco
quando lamentou a suposta morte de José (Gênesis 37:34). Quando Acabe ouviu a condenação de
sua casa, ele se lamentou em pano de saco, um gesto de angústia e humildade (1 Reis 21:27-29).
Pano de saco acompanha o arrependimento em várias outras citações bíblicas (Neemias 9:1-2; Jonas
3:6-8; Mateus 11:21; Lucas 10:13). Ezequias se vestiu de pano de saco quando buscou a libertação
de Jerusalém diante da ameaça assíria (2 Reis 19:1-3). O pano de saco das duas testemunhas sugere
a mensagem difícil e a lamentação delas em pronunciar a mensagem do Senhor, uma mensagem que
certamente condenava os perversos.
11:4 –
São estas as duas oliveiras e os dois candeeiros que se
acham em pé diante do Senhor da terra: Esta linguagem nos
lembra da visão de Zacarias 4 (leia o capítulo). As duas oliveiras
que alimentavam de azeite o candelabro são identificados como
“os dois ungidos, que assistem junto ao Senhor de toda
a terra” (4:14). No Velho Testamento, sacerdotes e reis foram ungidos (Levítico 8:12,30; 1 Samuel
3 Darei às minhas duas
testemunhas que profetizem
por mil duzentos e sessenta
dias, vestidas de pano de
saco.
4 São estas as duas
oliveiras e os dois
candeeiros que se acham
em pé diante do Senhor da
terra.
Lição 19: O Santuário e as Duas Testemunhas (11:1-13) 93
10:1; 16:1,13). No Novo Testamento, os cristãos são o “reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai”
(1:6), o “sacerdócio real” (1 Pedro 2:9). Apoiando a interpretação das duas testemunhas como a
igreja é a expressão acrescentada aqui, “os dois candeeiros”. No Apocalipse, os candeeiros
representam as igrejas (1:20). Os candeeiros no templo sempre ficavam acesos diante de Deus, como
os cristãos brilham diante do Senhor como a luz do mundo (Mateus 5:14-16; Efésios 5:8;1
Tessalonicenses 5:5).
11:5 –
Se alguém pretende causar-lhes dano: Agora entram os perseguidores, aqueles que queriam
causar danos aos servos de Deus.
Sai fogo da sua boca e devora os inimigos: É uma visão num livro que emprega uma grande
variedade de símbolos. O fogo da boca das testemunhas não é literal, mas representa o poder dos
servos de Deus de persistir no seu trabalho, apesar da oposição
dos inimigos. A figura nos lembra de vários profetas do Velho
Testamento. Moisés e Arão enfrentaram seus adversários no
Egito com uma série de pragas devastadoras (Êxodo 7-12).
Quando Acazias, rei de Israel, tentou prender Elias, fogo desceu
do céu e consumiu os soldados do rei (2 Reis 1:1-14). Os servos
de Nabucodonosor que tentaram matar os amigos de Daniel
foram consumidos pelo fogo da fornalha (Daniel 3:19-22). Deus
está com as testemunhas e lhes dará a vitória. Os adversários
devem morrer. Sabemos que a perseguição começou pouco tempo depois do início da igreja. Alguns
discípulos foram presos, e alguns morreram (Estêvão – Atos 7; Tiago – Atos 12; etc.). Mas o trabalho
da divulgação do evangelho continuou praticamente sem empecilho, e a palavra circulou pelo mundo
inteiro nas primeiras três décadas (veja Colossenses 1:23).
11:6 –
Elas têm autoridade para fechar o céu: Como fez Elias durante o reinado de Acabe (1 Reis 17:1;
Tiago 5:17-18).
Têm autoridade também sobre as águas, para convertê-las em sangue, bem como para ferir
a terra com toda sorte de flagelos: Como fizeram Moisés e Arão no Egito (Êxodo 7-12).
Deus equipa seus servos com poder para vencer os inimigos.
Deus agiu durante o ministério dos apóstolos através de milagres
que demonstraram o poder divino e confundiram os inimigos
(Atos 5:17-21; 12:6-24; 16:23-26; 19:13-17). Paulo cegou
Elimas, um “inimigo de toda a justiça” (Atos 13:9-11) e
expulsou o espírito adivinhador da jovem em Filipos (Atos 16:16-
18). O período apostólico foi caracterizado pelo crescimento do
evangelho: “Com grande poder, os apóstolos davam
testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” (Atos 4:33).
“Crescia a palavra de Deus” (Atos 6:7). “Assim, a palavra
do Senhor crescia e prevaleceu poderosamente” (Atos
19:20). O maior poder dado aos discípulos vem da própria
palavra pregada. O evangelho “é o poder de Deus para a
salvação” (Romanos 1:16). As armas espirituais são “poderosas em Deus, para destruir
fortalezas...e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus” (2 Coríntios 10:3-
6). A palavra de Deus é “a espada do Espírito”, usada “contra as forças espirituais do mal”
(Efésios 6:10-17). Esta espada é “mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”
(Hebreus 4:12).
5 Se alguém pretende
causar-lhes dano, sai fogo
da sua boca e devora os
inimigos; sim, se alguém
pretender causar-lhes dano,
certamente, deve morrer.
6 Elas têm autoridade para
fechar o céu, para que não
chova durante os dias em
que profetizarem. Têm
autoridade também sobre as
águas, para convertê-las em
sangue, bem como para ferir
a terra com toda sorte de
flagelos, tantas vezes
quantas quiserem.
94 Um Estudo do Apocalipse de Jesus Cristo
11:7 –
Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar: Este trecho obviamente não
fala do término final da missão da igreja, pois já usou a figura de um período curto (1.260 dias).
Chegando ao ponto determinado por Deus, e tendo cumprido a
sua responsabilidade de testemunhar, Deus permitiria que a cena
continuasse. Embora tenhamos sempre trabalho para fazer, é
possível encerrar uma determinada missão (Lucas 10:10-12; Atos
13:46-47). Deus determinou uma missão de tempo limitado para
os seus servos, e deixou o inimigo mostrar seu poder limitado
somente quando a missão fosse encerrada.
A besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as
vencerá e matará: Esta besta se tornará importante nos
próximos capítulos. Ela sobe do mar (13:1) ou do abismo (11:7; 17:8) e peleja contra os santos e os
vence (13:7). Mas a sua vitória não é final nem completa, pois será vencida pelo Cordeiro e seus servos
(17:12-14). Aqui, porém, a besta aparece e, por enquanto, vence as testemunhas do Senhor.
11:8 –
E o seu cadáver ficará estirado na praça: O cadáver (cadáveres – 11:9) das testemunhas não é
tratado com nenhum respeito pela besta e seus servos. Os corpos ficam na rua como troféus da vitória
sobre os fiéis (veja o desrespeito mostrado pelos filisteus quando
mataram Saul – 1 Samuel 31:8-10).
Da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma
e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado: Este
versículo é um dos mais polêmicos do livro. Qual cidade? É uma
cidade específica, ou linguagem que representa algo maior?
Claramente a descrição usa linguagem simbólica, pois qualquer
interpretação literal cairia em diversas contradições. Sodoma foi
destruída há milhares de anos. Egito é um país, não apenas uma cidade. Jesus foi crucificado em
Jerusalém, nem em Sodoma e nem no Egito. O que estes símbolos representam?
Sodoma e Egito aparecem somente neste versículo no livro do Apocalipse, mas são citados
freqüentemente em outros livros da Bíblia. Vamos ver o significado destes lugares.
Sodoma: Depois de sua destruição (Gênesis 19), Sodoma serve como exemplo de destruição e
castigo divino, ou de pecado aberto e perversidade exagerada. “...como Sodoma, publicam o seu
pecado e não o encobrem. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos” (Isaías 3:9).
“Porque maior é a maldade da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, que foi
subvertida como num momento, sem o emprego de mãos nenhumas” (Lamentações 4:6).
“...como Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à
prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo
eterno, sofrendo punição” (Judas 7). Veja também: Deuteronômio 32:32-33; Isaías 1:9-10.
Sodoma seguramente representa pecadores que merecem castigo.
Egito: Muitas citações bíblicas referem-se à nação ou à terra do Egito. Quando usado simbolicamente,
o Egito sugere pecado, idolatria, imundícia, escravidão e rejeição de Deus. Quando o povo de Israel
chegou à terra prometida e fez a circuncisão dos homens, Deus disse: “Hoje, removi o opróbrio
do Egito” (Josué 5:9). A terra do Egito foi conhecida como a casa da servidão (Josué 24:17; Judas
5), uma figura empregada no Novo Testamento para descrever a escravidão ao pecado (Atos 7:39-40;
Hebreus 3:16 e, implicitamente, em 1 Coríntios 10:1). O Egito oprimiu o povo de Deus, e serve como
uma figura apropriada dos perversos que oprimiam e perseguiam os cristãos na época de João.
Sodoma e Egito, então, representam as idéias de pecado, perversidade, rejeição de Deus e opressão
dos fiéis. Resumindo, representam a sociedade ímpia que se colocou em oposição ao povo do Senhor,
7 Quando tiverem, então,
concluído o testemunho que
devem dar, a besta que
surge do abismo pelejará
contra elas, e as vencerá, e
matará,
8 e o seu cadáver ficará
estirado na praça da grande
cidade que, espiritualmente,
se chama Sodoma e Egito,
onde também o seu Senhor
foi crucificado.
Lição 19: O Santuário e as Duas Testemunhas (11:1-13) 95
perseguindo os servos de Jesus. E a terceira descrição? O que quer dizer “onde também o Senhor
foi crucificado”? Algumas pessoas, mesmo aceitando o significado simbólico de Sodoma e Egito,
sugerem uma interpretação literal desta frase e concluem que Jerusalém fosse um dos principais
objetos da ira de Deus no Apocalipse. É claro que Jesus foi crucificado em (ou perto de) Jerusalém.
Mas, num sentido maior, ele foi crucificado pelo mundo – pelo povo ímpio – que não o aceitou. O
relato do evangelho do mesmo autor destaca esta rejeição pelo mundo, não somente por Jerusalém:
“O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o
conheceu” (João 1:10). É interessante observar que mais de um terço das ocorrências da palavra
“mundo” na Bíblia toda se encontram nos livros de João. A vitória aparente do mal sobre Jesus trouxe
tristeza aos discípulos e alegria ao mundo (João 16:19-20). O lugar onde o Senhor foi crucificado foi
no mundo, no meio de uma sociedade rebelde que o rejeitou porque preferia permanecer nas trevas.
A mesma sociedade que odiava o Mestre, também odiaria os discípulos: “Se o mundo vos odeia,
sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim” (João 15:18). Regozijaram-se na
vitória aparente sobre Jesus, e fariam uma grande festa quando vencerem, aparentemente, as
testemunhas dele. Mas nenhuma das duas vitórias foi real.
11:9 –
Muitos dentre os povos, tribos, línguas e nações contemplam os cadáveres das duas
testemunhas: Pessoas de todas as nações, ou seja, pessoas do mundo em geral, contemplam os
corpos mortos das testemunhas do Senhor. A descrição usada
aqui é quase a mesma encontrada algumas outras vezes no livro
para identificar a sociedade em geral, ou as pessoas de diversas
nações. A grande multidão que adora a Deus diante do trono
vem de “todas as nações, tribos, povos e línguas” (7:9).
João foi encarregado de profetizar “a respeito de muitos
povos, nações, línguas e reis” (10:11). A meretriz Babilônia
se assenta sobre “povos, multidões, nações e línguas”
(17:15). Esta linguagem denomina as pessoas do mundo ou da
sociedade em geral. Algumas dessas pessoas aceitam as bênçãos
que vêm pelo descendente de Abraão e, assim, fazem parte da
multidão de adoradores diante do trono. Outras seguem a meretriz e se regozijam com as vitórias
passageiras sobre os servos do Senhor. Muitos (mas não todos – 7:9) dentre os povos olham para os
corpos dos servos mortos.
Por três dias e meio: Não há dúvida. Estão mortas. Os corpos já estariam com o mal cheiro da
decomposição. Mas há mais aqui. Três dias e meio, a metade de sete dias, novamente representa um
período curto, um tempo de angústia para os fiéis que sofrem das perseguições. Mas, a “vitória” da
besta não dura por muito tempo. Somente as pessoas com miopia espiritual serão enganadas por esta
falsa vitória.
E não permitem que esses cadáveres sejam sepultados: Os ímpios querem o proveito máximo
desta “vitória” sobre os servos de Deus. Deixam os corpos expostos para mostrar o seu poder sobre
os justos. O que eles não entendem, ainda, é que a morte não é o fim para os servos de Deus. Os
vencedores não sofrem “dano da segunda morte” (2:11). Também não entendem como o orgulho
da festa desta falsa vitória ajudará a salientar a vitória verdadeira dos servos do Senhor. O que
acontecerá nos versículos 11 e 12 será visível a todos!
11:10 –
Os que habitam sobre a terra se alegram por causa deles:
Quando a besta mata os servos do Senhor, os ímpios fazem a
festa. A prática de enviar presentes é uma maneira de expressar
alegria em ocasiões especiais (veja Neemias 8:9-10). Aqui, os
perversos fazem uma festa de vitória. Há uma verdadeira guerra,
9 Então, muitos dentre os
povos, tribos, línguas e
nações contemplam os
cadáveres das duas
testemunhas, por três dias e
meio, e não permitem que
esses cadáveres sejam
sepultados.
10 Os que habitam sobre a
terra se alegram por causa
deles, realizarão festas e
enviarão presentes uns aos
outros, porquanto esses dois
profetas atormentaram os
que moram sobre a terra.
96 Um Estudo do Apocalipse de Jesus Cristo
uma luta entre o bem e o mal, e os malfeitores se regozijam com qualquer vitória, mesmo de pouca
duração, sobre o bem. Freqüentemente, os ímpios acham que suas “vitórias” sirvam para libertar
pessoas oprimidas por regras desnecessárias de religiões ultrapassadas. Oferecem a liberdade para
satisfazer qualquer desejo sexual, ou a liberdade para tirar a vida de crianças antes de elas nascerem,
ou a liberdade para exigir o respeito de outros mesmo quando praticam coisas que desprezam os
princípios de decência daqueles que seguem a Deus. Prometem liberdade, mas são escravos da
corrupção (2 Pedro 2:19).
Porquanto esses dois profetas atormentaram os que moram sobre a terra: Aqui revela o
motivo do assassinato. Os dois profetas atormentaram os ímpios. Como? Eles pregaram a verdade!
A palavra de Deus atormenta os malfeitores, tirando o sossego daqueles que recusam se submeterem
ao Senhor. Este é o lado amargo da pregação do evangelho. Por isso, os pregadores fiéis são odiados
pelo mundo (Mateus 10:22). Paulo sofreu perseguições e avisou que os piedosos seriam perseguidos
por homens perversos (2 Timóteo 3:10-13).
11:11 –
Depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus: Foram três anos
e meio de profecia e três dias e meio de falsa vitória dos ímpios antes da vitória real das testemunhas
de Deus. O Senhor manda um espírito de vida, pois ele é a verdadeira e única fonte de vida. Um tema
constante nas Escrituras é o contraste entre a vida e a morte (Deuteronômio 30:15; Mateus 7:13-14;
etc.). A vida é sempre ligada a Deus, e a morte sempre ligada ao
pecado. A palavra vida aparece mais nos livros de João do que
nos escritos de qualquer outro autor no Novo Testamento. João
emprega esta palavra com um rico significado espiritual, a partir
do prólogo de seu evangelho: “A vida estava nele e a vida
era a luz dos homens” (João 1:4). A vida própria é uma
qualidade divina: “Porque assim como o Pai tem vida em si
mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si
mesmo” (João 5:26). Jesus oferece a vida aos homens, dizendo:
“Eu sou o pão da vida” (João 6:48) e oferecendo a água viva
(João 4:10-11). Acrescenta: “Eu lhes dou a vida eterna” (João 10:28) e “Eu sou a ressurreição
e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11:25). Resumindo o seu papel
essencial para a salvação dos homens, ele diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). “E a vida eterna é esta: que te conheçam
a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Na sua primeira
carta, João descreve Jesus como o “Verbo da vida” (1:1) e o identifica como “a vida eterna, a
qual estava com o Pai e nos foi manifestada” (1:2). Sem o Pai e o Filho, a vida se torna
impossível: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu
Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a
vida” (5:11-12).
Paulo desenvolveu o mesmo tema em diversos comentários nas suas cartas: “...a vossa vida está
oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar,
então, vós também sereis manifestados com ele, em glória” (Colossenses 3:3-4). Ele disse que
Jesus “...não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o
evangelho” (2 Timóteo 1:10).
A vida vem de Deus.
Neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés: O espírito de vida enviado por Deus
ressuscitou as testemunhas. A vitória da besta e dos perversos acabou! Que conforto aos discípulos
do Senhor na Ásia ou em outros lugares onde a perseguição ameaçava matá-los! Poderiam até morrer,
mas a morte não teria a vitória final sobre os fiéis. Eles são os vencedores (2:11). Este versículo serve
11 Mas, depois dos três dias
e meio, um espírito de vida,
vindo da parte de Deus,
neles penetrou, e eles se
ergueram sobre os pés, e
àqueles que os viram
sobreveio grande medo;
Lição 19: O Santuário e as Duas Testemunhas (11:1-13) 97
para encorajar os servos de Deus em qualquer época, enfrentando qualquer ameaça do inimigo.
Podem sofrer; podem até morrer. Mas, no final, ficarão de pé, vitoriosos!
E àqueles que os viram, sobreveio grande medo: A festa acabou! A vitória dos ímpios não durou,
era falsa. Agora os perversos percebem que seu adversário é realmente invencível. Nem a morte segura
os servos de Jesus! “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu
aguilhão?.... Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus
Cristo” (1 Coríntios 15:55-57). Os perseguidores têm todo motivo para sentir medo. Perderão!
11:12 –
As duas testemunhas ouviram grande voz vinda do céu, dizendo-lhes: Subi para aqui: Mais
uma grande voz. As testemunhas ouviram esta voz, mas não sabemos se os adversários a ouviram.
A voz chamou os servos vitoriosos a subirem para o céu. Missão cumprida!
E subiram ao céu numa nuvem: Sobre o significado de
nuvens, veja os comentários na lição 18 sobre 10:1. As
testemunhas, depois de sua ressurreição, subiram como Jesus
subiu (Atos 1:9). Na segunda vinda de Jesus, os fiéis subirão
“entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares” (1
Tessalonicenses 4:17).
E os seus inimigos as contemplaram: Que cena triste para
os inimigos de Deus. As testemunhas, não contidas pela morte, agora somem de vez. A besta que
surgiu do abismo e parecia tão forte se mostra incapaz de vencer os servos de Deus. O resto do livro
mostrará, com mais detalhes, esta certeza da vitória dos fiéis sobre seus adversários ímpios. “Porque
todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a
nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?”
(1 João 5:4-5).
11:13 –
Houve grande terremoto, e ruiu a décima parte da cidade, e morreram, nesse terremoto,
sete mil pessoas: Já encontramos terremotos como símbolos do castigo divino. Este terremoto afeta
a décima parte da cidade e causa a morte de 7.000 pessoas.
Como as primeiras trombetas, este castigo também não é final
e total, mas a retirada das testemunhas de Deus traz
conseqüências graves para a cidade mundana, a sociedade dos
ímpios.
As outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glória
ao Deus do céu: Ficaram com medo, mas o texto não diz que
se converteram. Nabucodonosor, impressionado com a
interpretação do seu sonho por Daniel, reconheceu o Senhor
como “o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (Daniel
2:47) mas ainda fez a sua imagem de ouro e exigiu que os
homens a adorassem (Daniel 3) e se exaltou ao ponto de ser
humilhado por Deus (Daniel 4). É possível dar glória a Deus sem se converter a ele.
Conclusão
A ntes de completar a série de sete trombetas, Deus frisou vários fatos importantes nas cenas do
intervalo. Além dos pontos observados na lição 18 (capítulo 10), observamos mais estes fatos: ì
Deus identifica (mede) e protege o seu povo mas, ao mesmo tempo, í Ele deixa os ímpios pisar,
perseguir e até matar os seus servos. î No final, os fiéis terão a vitória e os perversos serão totalmente
derrotados. Na próxima lição, ouviremos a sétima trombeta. Se as primeiras seis já demonstraram o
poder de Deus por meio de castigos severos, podemos imaginar o que vem pela frente.
12 e as duas testemunhas
ouviram grande voz vinda do
céu, dizendo-lhes: Subi para
aqui. E subiram ao céu
numa nuvem, e os seus
inimigos as contemplaram.
13 Naquela hora, houve
grande terremoto, e ruiu a
décima parte da cidade, e
morreram, nesse terremoto,
sete mil pessoas, ao passo
que as outras ficaram
sobremodo aterrorizadas e
deram glória ao Deus do
céu.
98 Um Estudo do Apocalipse de Jesus Cristo
Perguntas
1. No início do capítulo 11, João foi instruído a medir o que?
2. Por que não mediu o exterior do santuário?
3. Qual o significado de 42 meses? De 1.260 dias?
4. Por que as testemunhas usaram pano de saco?
5. Descreva o poder das testemunhas durante os 1.260 dias de seu trabalho.
6. Quem matou as duas testemunhas?
7. Como o mundo reagiu quando as testemunhas foram mortas?
8. O que interrompeu a festa dos perversos?
9. No final deste intervalo, onde estão as testemunhas? O que está acontecendo na terra?
10. O que aprendemos, deste capítulo, sobre a
consolação?
Leitura para a
próxima aula:
Apocalipse 11:14-19

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